quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

PADARIA DO SEU MANEL



Escrevi esse texto no dia 28 de maio de 2002.
Tirando os valores ultrapassados, acho que ele ainda serve para alguma coisa.

Designers Associados Silva

- Alô...
- Designers Associados Silva. Bom dia!
- O Silva, por favor...
- Quem gostaria?
- Seu Manuel...
- Um momento...
- Pois não.
- Sr. Silva? Aqui é o Seu Manuel da padaria. Tudo bem?
- Tudo bem. Em que posso ajudá-lo?
- Sabe o que é, to ampliando meu negócio e gostaria de mudar a marca da minha padaria... Quanto custa?
- Bem, como assim?...
- Queria saber quanto sai para fazer uma marca pro meu negócio...
- Seu Manel, os custos podem variar de acordo com uma série de fatores: tamanho, faturamento, classificação do negócio, exposições da marca, possíveis aplicações, etc...
- Tudo bem, mas... Quanto custa?
- Como te falei, o ideal seria marcar uma reunião. O senhor me apresenta as "questões" da marca e "desenhamos" um "briefing".
- Ih! Com esse tal de briefing é mais caro?
- Não, trata-se apenas de uma coleta de dados para que eu saiba como conduzir melhor o trabalho.
- Mas é muito simples: Padaria do Seu Manel... E acabou...
- Tudo bem, mas é necessário uma pesquisa de mercado. Preciso conhecer seu negócio...
- O senhor nunca foi a uma padaria?
- Claro que fui... Obviamente!
- Então é isso! É tudo igual: pão, leite, bolo, frango assado... Essas coisas de sempre.
- Ok. Mas insisto que nos encontremos para levantar algumas questões e fechar o negócio...
- Seu Silva, não me leve a mal, mas acho que o senhor não entendeu. Eu to te ligando para saber quanto custa...
- Bom, então o senhor quer mais objetividade?
- Isso mesmo!
- Segundo a Tabela do Sindicato dos Designers da Região Central da Planície de Montes Verdes, uma marca - incluindo layout, arte-final e manual - custa, exatamente, R$ 3.968,73...
- O que... Tá maluco?!!!
- Como assim?...
- Tá achando que eu sou português?
- Não senhor... Quero dizer, sim Seu Manel. Esse é o preço praticado pelo mercado.
- Mas o meu negócio é padaria... Você sabe quanto custa um pãozinho? Terei que vender milhares de pães pra pagar essa marca... Tá muito caro!
- Mas foi exatamente por isso que eu queria marcar uma reunião com o senhor...
- Com a reunião o preço abaixa?
- Vamos conversar...
- Então tá... Que horas?
- Que tal às 10:30h nesta quarta?
- 10:30h? Muito tarde!
- Mas é meu primeiro horário de trabalho.
- Tá brincando! Eu acordo todo dia as 4:30h da manhã para trabalhar, dia após dia, incluindo sábado e domingo, e o senhor, que chega ao trabalho às 10:30h quer me cobrar R$ 3.968,73 por uma marca?!!!
- Tudo bem, então podemos marcar pro fim do dia... 21:00h tá OK?
- Que isso!... Nessa hora eu já to indo pra cama. Não posso acordar tarde como você não... Tenho que trabalhar!
- Então é o seguinte Seu Manel: nada de reunião, entrevistas, briefing... Na segunda que vem te apresento uns layouts e pronto.
- Mas... Quanto custa?
- Tudo bem, tudo bem... Seu negócio é pequeno. Vou tirar o manual da marca e fazer um grande desconto para viabilizar o negócio: R$ 1.173,47
- R$ 1.000,00 pra arredondar?...
- Tudo bem... Tudo bem...
- Segunda que vem?
- Na próxima segunda um rapaz irá deixar os layouts para sua aprovação.
- Fechado...
- Fechado!
- O senhor poderia me passar o endereço para a entrega?
- Só um momento, vou transferir para minha secretária...

ESPERA: "
Com 73 lojas espalhadas pelo estado, e mais 7 no exterior, a Padaria do Seu Manel é a única que possui uma ampla estrutura de serviços e delivery. Para sua comodidade, acesse: www.padariadoseumanel.com e faça suas compras sem sair de casa. Na Padaria do Seu Manel você encontra mais de 15.000 produtos! Os melhores preços e as melhores marcas estão aqui! Nesse Natal não perca nossa promoção: no mês de dezembro, a cada R$ 20,00 em compras, você ganha um cupom para concorrer a 30 casas!!! Isso mesmo, são 30 casas no valor de R$ 60.000,00 cada! É isso mesmo!... Uma casa por dia! O resultado da Promoção Casa Própria do Seu Manel será divulgado nos intervalos do Jornal Nacional. Participe!
Padaria do Seu Manel, onde quem ganha é você!"

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

MATEMÁTICA



Há pouco tempo atrás eu era o moleque da foto. O que estava lambuzado. O que sorria sem endereço. O que estava rodeado de adultos. O que tinha medo de encarar a câmera por conta da timidez. Hoje eu sou o adulto da foto ao lado.

Falar que o tempo passa rápido é default. Mas, por mais clichê que possa soar, ele passou voando. Sobrinhos vindos dos irmãos, rugas vindas dos tios, tias e pais, missas póstumas vindas dos avós. Nada é bom ou ruim, melhor ou pior. Só é difícil entender porque o tempo existe. Por que a matemática se faz presente além da sala de aula ou do cálculo da ponte. Nunca fui bom em matemática, na verdade, sempre fui péssimo. Mas nunca imaginei que um dia ela me pegaria dessa forma tão prática, tão real, tão latente.

Esse mesmo tempo matemático, que soma horas, dias, meses e anos, provavelmente não me trará nenhuma fórmula, mas almejo que me dê alguma serenidade para entender porque certas coisas acontecem.

Hoje, quando vejo uma foto nova de alguém do passado, personifico essa inabilidade com os números. Nossos ciclos são frágeis dentro da linha do tempo. Mas, nem por isso, somos frágeis. Por mais que a matemática seja um empecilho, aprendi que ela existe para admirarmos o tempo.

O nosso tempo, a cada segundo.


terça-feira, 17 de maio de 2011

AQUI



Faz frio de inverno em pleno outono.
Se digitam ideias bobas.
Bebe-se cerveja preta.
Ouve-se música de todos os continentes sem restrição.
Não tocam todos os estilos de música.
Tenta-se, a medida do possível, manter um estilo.
Pessoas procuram amar e ser amadas, por mais complexo que isso possa ser.
Os livros se abrem e se fecham pela orelha.

Aqui, as unhas se vão.
As lágrimas adubam.
As dúvidas permanecem.
A TV está fora da tomada.
A cama flutua.

Aqui, talvez seja como ai. Se for, sinta-se a vontade para ligar.

Aqui foi.

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terça-feira, 12 de abril de 2011

Jazz

Ela veio por trás. Devagar.
De repente, me agarrou pela cintura.
Ficou na ponta dos pés e cochichou no meu ouvido:
- "É hoje..."
Sem que eu pudesse me virar para enxergar seu rosto, ela esfregou e amassou seus peitos contra as minhas costas enquanto, lentamente, baixou a sola dos pés, tocando o chão e a minha espinha por inteiro. Suas mãos continuavam na minha cintura.
Tentei me virar lentamente...
- "Não olha!... Não te dei esse tipo de permissão."
Entendi. Baixei a guarda e suspirei. Ela, apesar da baixa estatura e do corpo pequeno, se fez de fôrma. Eu, recheio, ia me encaixando nas paredes.
Poucos instantes depois eu estava lá dentro.
Tudo escuro.
Só ouvi os pulsos dessincronizados. Um ritmo atípico, torto, meio jazz.
Quando submergi, estava cego.
Em compensação, meus outros sentidos estavam à flor da pele.
Tentei tocá-la para explorar meus novos poderes...
Era tarde, ela já havia sumido sem revelar sua identidade.
Com o passar do tempo meus sentidos enfraqueceram.
Só ficou a cegueira.
Pobre descompasso.

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

NATAL




Ele era baixo, gordinho e totalmente míope.
Ela era alta e elegantemente magra.
Ele, o baixo-gordo, perdia os cabelos em progressão geométrica.
Ela, a Sophia Loren tropicana, foi promovida gerente geral.
Ele devia na praça.
A praça parava para vê-la passar.
Gago e com problemas de coluna, ele usava Acnase.
Ela usava meia calça e salto alto.
Ele caiu na agiotagem. Vivia no vermelho.
Ela, de batom intenso, inspiraria Fellini, Tornatore, Scola.
Enquanto ele pega um trem pra Central, ela negocia a compra de um apartamento no Central Park.
Ele ouvia Calcinha Preta.
Ela, de calcinha preta, ouvia jazz.
Ele fumava Derby.
Ela parou de fumar - para desespero de Fellini.
Ele jogava na Sena.
Ela, a beira do Sena, tomava champanhe.
Bêbado de Sidra, o Natal dele se fez repleto.
Mais uma "flute" pra ela, gentilhomme.
Tim tim.

Não, eles não se conhecem.
Uma pena...

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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

ADAMASTOR



Seu nome parecia ter saído de um comercial. Mais precisamente de um comercial de seguros. Afinal, quem se chama Adamastor? Mas esse não era seu único desgosto. Meu amigo nasceu numa terra isolada, numa cidade vazia, num estado... Digamos, pífio. Adamastor era de Esperantina, no Piauí... O nome da cidade, passível de um trocadilho otimista, não foi suficiente para Adamastor se livrar das agruras que lamentava entre goles e palitadas.

Verdade seja dita, nasceu no cu do mundo. Mas, desde que inventaram a roda, isso não é desculpa pra nada. Sabendo disso, logo que se emancipou, tratou de juntar os trapos e desceu o mapa. Foi para São Paulo. Adamastor era mais velho que eu. Hoje teria uns 46 anos. Mas os quatro anos que nos separavam nunca foram problema para dividirmos a mesma mesa, as mesmas histórias e, como não poderia faltar, alguns desgostos.

Sou carioca. Adamastor veio pro Rio após dois anos amargos na capital paulista. Sem dinheiro e sem trabalho, veio tentar a vida no balneário carioca. Aqui, ao menos, nos divertíamos com poucos trocados.

Nessas conversas, regadas a conhaque barato, aprendi muitas coisas com o velho amigo. E claro, ouvi muitas baboseiras desconexas. Certa vez, ele me disse que odiava homens de pochete, mas que, ao mesmo tempo, sentia remorso por isso. Me confessou que passava as madrugadas andando pelo casa com o aparelho celular preso no elástico da cueca. De uma certa forma, ele sabia que estava usando uma espécie de pochete particular, invisível a rua, mas igualmente - ou pior'mente' - devastadora.

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Logo que chegou ao Rio se enturmou com uma galera metida a artista. E, entre performances com homens e mulheres nus e poesia concretas, desenvolveu esse sentido estético metido a besta. Daí a implicância com as pochetes. Entre uma exposição e outra, Adamastor cursou jornalismo. Outro erro, talvez. Estava fadado as profissões nada práticas, que não dão grana. Porra Adamastor!

Meu diploma de engenharia civil não permitia alertá-lo. Para ele, eu era mais um cidadão comum. Coisa que Adamastor queria fugir... Pavor por ter nascido em Esperantina, Piauí. Certa vez, insisti no assunto. Disse a ele que tudo isso era bobagem, que mais valia um prato na mesa, amigos, saúde, família. Perdi meu tempo. Adamastor queria deixar sua marca no mundo, fazer diferença. Queria se livrar de um carma que ele mesmo havia inventado.

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Há poucos meses Adamastor me ligou triste, desolado. Marcamos um papo no bar de costume. Antes do primeiro gole Adamastor sentenciou: "internet de cú é rola!" Ri... Fazer o que? Adamastor estava irritado com as novas mídias sociais, estava puto com o que chamava de "falta de respeito online". Não conseguia entender porque as pessoas não respondiam seus e-mails, mesmo que eles não estivessem perguntando nada. Concordo em termos, mas não pra ficar puto. Como disse ao amigo, acho que faz parte de um processo de desapego, de materialização das relações, de independência. Sei lá, foda-se! Na mesma noite, Adamastor deletou tudo. Virou um recluso online.

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Fui a quase todas exposições de Adamastor. Confesso que não entedia porra nenhuma da sua obra. Mas não ligava. Até porque sempre duvidei que alguém entendesse alguma coisa. Não somente da obra de Adamastor, mas de qualquer obra de qualquer artista contemporâneo. Sempre tive a impressão que os malucos despejam sua loucura em universos muito particulares. Mundos com linguagens e códigos próprios. Por isso nunca desdenhei seu trabalho, simplesmente olhava, balançava a cabeça e ia embora. Como ele nunca me perguntou nada sobre arte, ou sobre a sua arte propriamente dita, me sentia confortável em prestigiá-lo.

Mas, pra mim, foi essa arte que fez Adamastor sumir.
Desde que ele começou a levar a sério esse mundinho torto, que sua implicância com o passado passou a ser um problema. Antes ele lamentava, se dizia vítima da geografia, do DNA, da economia. Tá certo, a vida até poderia ter sido mais fácil pra ele se o pai tivesse alguma posse, algum nome importante, se fosse artista de novela. Mas entre nós, isso só acontece com meia dúzia. Quanta bobagem dizia - e pensava - Adamastor.

Certa vez, num bar, Adamastor disparou:
- "É foda morar no Rio. Já tô a tanto tempo aqui que perdi meus mitos. Você assiste um filme nacional, fica vidrado na atriz... Repara nos detalhes da fotografia, no mistérios das curvas, na boca inchada pelo batom vermelho. Uma puta fantasia, cheia de sensualidade que cai por terra quando, na mesma semana que você assistiu a porra do filme, dá de cara com a infeliz tomando todas na mesa ao lado, sem charme, sem aquela luz indireta. Que mito segura a realidade?"

Dessa vez concordei, mas não dei muita trela. Pra mim, pouco importa se a gostosa ao lado é musa, foi musa, faz ou fez um filme de merda. O que realmente importa é chegar em casa e dar de cara com a Carlota, minha esposa há 16 anos. Mas vai falar isso pro Adamastor...

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O tempo passou, seu interesse pela arte contemporânea aumentou. Adamastor ficou chato, só sabia falar dessas porras. E quanto mais ele se embrenhava nessa selva, maiores as doses ficavam. Faz sentido um cara como ele se sentir mal diante a vida. Nessa altura do campeonato eu concordava com suas empáfias existenciais. Cá entre nós, o sujeito passa o tempo todo pensando em formas, em maneiras de dizer alguma coisa óbvia de uma forma diferente e quando resolve a questão, se depara com um monte de coisas desconexas, sem sentido. É claro que, na sua intimidade intelectual, ele sabe que não faz nada útil, que não aproveita seu tempo para algo realmente construtivo, palpável. Essas ideias jogadas escorrem pela sarjeta com a chuva, voam com o vento, são descartáveis. Daí, entendi Adamastor. Esperantina era seu menor problema. E logo quando ele percebeu que eu havia matado a charada, sumiu. Semanas depois, eu liguei. Secretária eletrônica. Mandei dois ou três e-mails e nada. Insisti mais uns dias e parei. Se ele não quer mais falar comigo, foda-se ele.

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Semana passada passei na frente do prédio do Adamastor e resolvi chamá-lo. Para minha surpresa, o porteiro disse que ele havia se mudado há algum tempo, e que não sabia para onde tinha ido.

Prefiro imaginar que Adamastor acordou de ressaca, parou e pensou na vida. Na sua própria vida. E isso fez com que ele abandonasse tudo por aqui. Adamastor fez as malas, seguiu para a rodoviária e comprou uma passagem para Salvador. De lá, foi pra Teresina para finalmente, chegar em Esperantina.

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Tomara que o velho amigo tenha encontrado um novo caminho. Mesmo que esse caminho seja o de volta.
As vezes, é melhor não sair do lugar.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA



Enquanto uma velha senhora chupa pães de queijo sentada à calçada - preservando o terceiro molar que ainda resta - uma figura gordinha passa exibindo banhas que escapam de uma blusa de lycra com estampas florais. Logo atrás um homem se aproxima da cena a passos largos. Na cintura exibe um aparelho celular devidamente protegido por uma capa de couro falso. Giro no eixo e, do outro lado da rua, uma jovem mulher arruma os cabelos. Lisos e pintados de loiro. Extremamente lisos. Tão lisos que seu nariz de batata entrega a alquimia.

No fone de ouvido alguém sussurra sobre clichês do fim do mundo. Coincidências à parte, confesso que essas experiências se sobrepõem, criam uma espécie de trailer cinematográfico dentro da minha mente. Uma edição frenética comum aos filmes de ação, uma montagem de tirar o fôlego.

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quinta-feira, 25 de março de 2010

PROCRAS...

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...........TINAÇÃO

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LOUÇAS DE PLÁSTICO

Lavei meia dúzia de louças de plástico
me molhei da cabeça aos pés.
Sou extremamente hábil
nas inabilidades.

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

FORA DE CASA NA CAPADÓCIA, TURQUIA

FORA DE CASA EM MONTREAL, CANADÁ

FORA DE CASA EM NAIRÓBI, QUÊNIA

FORA DE CASA EM PARIS, FRANÇA

FORA DE CASA EM NOVA YORK, EUA

FORA DE CASA EM JOHANESBURGO, ÁFRICA DO SUL

FORA DE CASA NA CIDADE DO MÉXICO, MÉXICO

FORA DE CASA EM VALE NEVADO, CHILE

FORA DE CASA EM WINDHOEK, NAMÍBIA

FORA DE CASA EM GOTEMBURGO, SUÉCIA

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

FUSO NO MuBE




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Rhino customizado pelo Fuso Coletivo:

sábado, 2 de janeiro de 2010

MINI RETROSPECTIVA 2010

2009 foi o ano:
1) do desaparecimento do Belchior
2) da gripe suína
3) da proliferação do peixes nos aquários socias
4) do Twitter
5) das vossas excelências trocando farpas enquanto nadam na minha piscina
6) de ver como o tempo passa rápido
7) de conhecer parte do mundo
8) de sonhar
9) de buscar
10) de repetir
...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

sábado, 12 de dezembro de 2009

O JOGO




Éramos quatro, todos devidamente acomodados. A mesa redonda exibia o feltro novinho, roxo. Estávamos prontos para a disputa. Melhor de 301, essa era nossa epopéia na Catchamba, jogo milenar que utiliza todas as cartas do baralho oficial da Anti-República de Azmhir. A sala de jogo, posicionada estrategicamente no alto do castelo do poderoso rei, era sombria, fria, nebulosa. Começa nossa disputa medieval.
Contrariando a velha máxima, o prêmio maior era pura libertinagem. Katrina, do alto dos seus 182cm de altura, estava pronta para servir o vencedor. Sete noites de amor e luxúria na suíte master do castelo. Contando dessa forma, a peleja até soa como um playground, mas não era. Se Katrina, uma loira tipo Sharon Stone - no auge da forma - era o grande prêmio da sabatina, os perdedores amargariam as prendas do temido rei ditador da Anti-República de Azmhir. Nosso comandante é extremamente sádico. Correm, pela vila baixa, diversas histórias de tortura e maus tratos, todas protagonizadas pelo monarca. Era um desafio de vida ou morte.
Ao meu lado direito havia um imigrante oriental. Uma figura franzina, esquelética, branco como algodão que respondia pelo nome de Ping Shan III. Ao lado de Ping Shan, quase de frente para mim, o carrasco do reino. Sem pronunciar uma palavra sequer, o gigantesco homem de capuz preto não tinha nome, ele era o carrasco do reino e ponto, uma figura sem identidade. Do meu lado esquerdo, um cidadão comum, provavelmente descendente do clero dos eromitas. Lembro-me muito bem que a cada rodada o homem comum, que atendia pelo nome de Alexandrino, exalava um cheiro forte, um odor fétido de enxofre. Bastava uma nova rodada da temida Catchamba para Alexandrino abrir seu poros.

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Eu sei que antes de prosseguir com a história, seria de bom grado explicar como funcionam as regras desse temido jogo. Mas, como todo embate que utiliza baralhos reais, a Catchamba é – provavelmente – o carteado mais complexo de todos os reinos.

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Para fiscalizar a partida o próprio rei fazia as honras, um crupiê real, sádico. Seus olhos corriam todos os vãos do castelo enquanto distribuía as cartas com grande agilidade. Há quem diga que o temido Azmhir não era viciado na jogatina, mas sim nas prendas que aplicava aos perdedores. Seu castelo, incrustado no alto das montanhas, era o cenário perfeito para vencer ou morrer. E lá estava eu... Assim que fui anunciado pelos clarins lembrei que na parte baixa do reino corriam boatos terríveis sobre essa partida que eu estava prestes a protagonizar, especulava-se que o último colocado seria executado em praça pública. Mas logo que vi o carrasco real estranhei o que poderia vir a ser uma auto-execução, caso o temido gigante de capuz preto perdesse de todos. Fiquei intrigado.
Os clarins tocam, as cartas são distribuídas. Primeira rodada. Seguindo a ordem anti-horária, saquei meu valete de ouros. Heitor, o príncipe de Tróia era meu trunfo. Ping Shan III cobriu minha carta com um demolidor dois de paus. Em seguida o carrasco nos soterrou com um rei de ouros. Aquela figura de Julio César com um machado na mão estampada na carta do gigante queria nos dizer alguma coisa. Todos cruzaram olhares. De repente o homem comum sacou um três de copas e acabou com aquela rodada: Catchamba! Gritou apressadamente.
1 X 0 X 0 X 0.
Azmhir sorriu marotamente, com o canto da boca. Era apenas o começo, muita coisa ainda viria pela frente.

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4 horas e 52 minutos após a primeira rodada, a mesa estava tecnicamente empatada: 43 X 43 X 43 X 44 - um mísero ponto dava vantagem ao homem do baixo clero – quando o rei sentenciou:
- “Como todos sabem, o vencedor terá direito a uma semana de prazer com Katrina. Serão sete dias e sete noites com a mais bela serva real. Mas agora, como vocês não sabem, vou anunciar o prêmio para o segundo colocado...”
Os clarins sopraram a todo vapor.
- “Um Kindle com 3,3 gigas de memória!”
Confesso que prefiro a semana de luxúria, mas fiquei aliviado ao saber que o segundo colocado não seria punido seriamente. Àquela altura do campeonato nós jogadores temíamos que o rei anunciasse alguma barbárie.
Nos entre olhamos... Os clarins soaram novamente e o rei, sem fazer qualquer menção ao que estava reservado para o terceiro colocado, ordenou que voltássemos ao jogo. Antes de dar as cartas, Azmhir sussurrou em tom debochado:
- “Só anunciarei o que reservo para o terceiro colocado quando um de vocês alcançarem 100 pontos.” O rei era terrível, sabia como aplicar técnicas de tortura mental como ninguém.
Jogamos por mais três horas e meia. O carrasco tremia de cansaço, Ping Chang III estava ainda mais pálido do que nunca. Eu suava como um porco a caminho do abate enquanto o homem comum não demonstrava nenhuma reação.
100 X 99 X 98 X 97! Frio e calculista, o representante do baixo clero seguia a frente do placar. A cada rodada, fazia questão de exibir total domínio sobre as cartas. Não parecia humano.
Antes de anunciar o que estava reservado para o terceiro colocado, o Azmhir chamou Katrina. Luzes piscaram, máquina de fumaça real a todo vapor.
- “Que entre o prêmio máximo!”
A porta do salão de jogos real se abriu e Katrina apareceu lentamente. Ela era perfeita. Com olhos rasgados e andar de gazela, nossa musa adentrou o salão coberta por um minúsculo baby dool transparente. Mais uma vez nossas reações vieram à tona. Enquanto o japa tremia feito vara verde, o carrasco lambia a lâmina de seu machado numa cena obscena e grotesca. Confesso que perdi o fôlego quando fitei aquela deusa. Katrina era demais, sua bunda parecia ter sido desenhada com um compasso suíço... Mas o homem comum não demonstrou reação. Seus olhos estavam fixos na mesa, nas cartas, no jogo. Katrina se foi ao som dos clarins e o rei profanou:
- “O terceiro colocado será expulso do reino e sua família, incluindo 3 gerações futuras, serão meus servos!”
Azmhir mostrara suas cartas justificando sua fama. O que poderia ser pior que isso? O que o reino reservava para o último colocado? Por que me meti nessa roubada real?

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12 horas de jogo. Pausa para uma mijada. Estávamos perto do placar final.
Saí da mesa em direção ao banheiro real com os bagos nas mãos. Afinal de contas, estava em último lugar. Enquanto o homem comum do baixo clero seguia na ponta, o carrasco mantinha seu posto de segundo colocado. Ping Chang III teria mais algumas rodadas para livrar sua família da sentença real enquanto eu só pensava no que poderia me acontecer caso não reagisse ao placar desfavorável. Balancei e voltei à mesa. O quadro negro com moldura de ouro exibia o trágico: 294 X 292 X 198 X 149. Eu despontava na lanterna, longe, muito distante do terceiro colocado. Recorri à lei da probabilidade para calcular quais seriam minhas chances de recuperação. Maldita matemática, no máximo conseguiria arruinar minha família.
O jogo prosseguiu.
Alexandrino continuava na ponta enquanto o carrasco real sonhava com seu Kindle de 3,3 gigas. Ping Shan III e eu travávamos um embate terrível.
Viramos 2 noites sobre o feltro roxo. O Rei, astuto como uma ave de rapina, era o único que tinha momentos de descanso. Sempre que deixava a mesa para repousar, deixava o ministro da guerra para supervisionar a partida.

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300 X 274 X 261 X 239.
Era o fim. Meus 239 pontos contra os 300 de Alexandrino me sepultavam.
Os clarins soaram anunciando o match point. As luzes do castelo ficaram miúdas enquanto as máquinas de fumaça, ligadas em 220 volts, trabalhavam sem parar. Nesse momento tive um flash back perturbador. Lembrei da minha infância pobre e divertida na vila baixa. Lembrei do meu primeiro amor, meu primeiro beijo, minha primeira transa. Lembrei das juras de amor que fiz a minha primeira paixão verdadeira, lembrei da primeira nota baixa no boletim, lembrei do meu pai trazendo lenha no inverno, do cheiro do bolo da maça da minha mãe. Lembrei do dia que fumei meu primeiro baseado, lembrei das ressacas intermináveis de rum, lembrei do mergulho na extinta lagoa azul... Lembranças tenras e difíceis. Um flash back típico de quem está no fim da linha.
Enquanto meu flash back corria décadas em velocidade máxima o homem simples gritou:
- “CATCHAMBA!!!”
Alexandrino, com os olhos esbugalhados e mãos ao pau, exibia um sorriso desconcertante. Era o fim daquele jogo insano.
Os clarins soaram, Katrina entrou na sala de jogos reais com seu minúsculo baby dool transparente e levou Alexandrino pela mão. O carrasco foi presenteado com seu Kindle de 3,3 gigas e Ping Shan III foi levado à masmorra.
Fiquei sozinho na sala escura. Eu, Azmhir e meia dúzia de guardas reais. O silêncio tomou conta do ambiente durante uns 30 segundos até que o rei se pronunciasse em altos brados:
- “Você, perdedor máximo, faz idéia do que reservo para os piores?”
Ajoelhado aos seu pés, relutei até dizer:
- “Não meu senhor...”
O rei calmamente fez um gesto para o ministro da guerra. Dois guardas me tomaram pelos braços enquanto as luzes se apagaram.

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sábado, 22 de agosto de 2009

DE VOLTA!

Faz tempo que não apareço por aqui. De volta, faço esse micro post para antecipar algumas imagens que me fizeram abandonar o lar.

Fui atrás de imagens e histórias. Elas viajaram bem acomodadas na minha mala. Agora é só edição e finalização. O título do programa que estreia dia 02 de setembro no GNT as 21 horas, Fora de Casa, coube direitinho pra mim também. Quase três meses longe dos amores, da cidade, do clima úmido, das notícias repetidas e tristes, das cores vibrantes, da tropicália exuberante e conturbada.

Em breve as fotos (muitas), alguns vídeos posts e muitas histórias estarão no site do programa: www.gnt.com.br/foradecasa

Abaixo a ordem de exibição e as respectivas datas. E algumas fotos também.

O bom filho à casa torna.
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FORA DE CASA (estreia dia 02 de setembro no GNT, 21 horas)

1) 02/09 - CAPADÓCIA
2) 09/09 - PARIS
3) 16/09 - NOVA IORQUE
4) 23/09 - JOHANESBURGO
5) 30/09 - MONTREAL
6) 07/10 - LIMA
7) 14/10 - NAIRÓBI
8) 21/10 - LONDRES
9) 28/10 - BARCELONA
10) 04/11 - CIDADE DO MÉXICO
11) 11/11 - GOTEMBURGO
12) 18/11 - SANTIAGO
13) 25/11 - WINDHOEK

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Lima, Peru
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Eu e Ponichi em NYC
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Ponichi e eu preparados para a gripe suína na Cidade do México
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Panorâmica de Montreal
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Ponichi, Marquito, Célia e eu em Paris
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A bela desordem arquitetônica de Barcelona
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Perto de Johanesburgo, África do Sul
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O rei da selva justificando o trono em Windhoek, Namíbia
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Nairóbi, Quênia
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Eu e Ponichi pegando uma prainha de pedra em Gotemburgo
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O legítimo pub londrino
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Marquito, eu e Ponichi na Capadócia, Turquia
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Voo de Isabel Clark em Vale Nevado, Chile

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quarta-feira, 3 de junho de 2009

TEMPO REI

De tao rei que e, agora so volto a dar as caras por aqui em agosto...
Tudo sem acento por conta do teclado africano...

terça-feira, 21 de abril de 2009

EM BUSCA DO TEMPO EM NOVA IORQUE

Cheguei em NYC há 4 dias e até agora não consegui postar uma foto sequer... Correria total, trabalho a mil. Hoje vou arrumar uma brecha e editar as quase 1000 fotos clicadas. Vou postar algumas aqui, outras vão para o blog do programa Fora de Casa, razão pela qual estou aqui trabalhando.
O frio continua, mas a chuva deu uma trégua. Ontem a sensação térmica era de 5 graus, hoje ainda não botei a cara na rua... Daqui a pouco vamos gravar uma interna num estúdio. Depois, free day para botar o estômago em dia (chega de burguers e burritos!).
Em breve o blog do Fora de Casa vai pro ar! Fotos e vídeos com o making of de toda produção. Esse é o primeiro país, outros virão.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

MINI RETROSPECTIVA - ADENDO



Esqueci de inserir um tópico na minha mini retrospectiva 2009: o espetáculo A Inveja do Anjos.

A peça em si não me impressionou (sou chato!), mas a cenografia é uma obra prima. No conjunto, vale o ingresso. Prêmios Shell a parte, o espetáculo - em cartaz na Fundição Progresso - tem ótimas atuações e um texto... digamos... teatral... Em resumo, a cenografia de Paulo de Moraes e Carla Berri é criativa, bonita, lúdica, bem realizada e, como não podereia ser diferente, ajuda a traçar a história. A montagem é do Armazém Companhia de Teatro.

terça-feira, 14 de abril de 2009

MINI RETROSPECTIVA



Valsa com Bashir é muito bom... Do israelense Ari Folman, única animação em competição neste ano no Festival de Cannes. Neuroses da guerra do Líbano com tintas psicodélicas e rotoscopia que se justifica na trama.
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Em cartaz, em Búzios, a exposição UM OLHAR PARA O UNIVERSO. Com alegorias, vídeos, textos e imagens a exposição - voltada para o público infantil - fala de aquecimento global e afins sem cair no clichê da sustentabilidade - palavra da moda das mega corporações poluidoras.
Rua Maurício Dutra, 100Manguinhos - Búzios - RJ
De 08 de abril a 02 de maio. De seg a sex, das 10h as 18h.Sáb e dom, das 14h as 20h.
Informações: 22 9846 4030
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Fiz um perfil no Twitter e, após 3 semanas de uso, ainda não vi a real necessidade de mais um tamagotchi digital.
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Vi a exposição dos Gêmeos no CCBB e, pela primeira vez, me decepcionei com uma montagem do centro cultural... Pouca coisa, esse é o resumo. Em contrapartida, a mostra Brasil Brasileiro traça um panorama extenso da arte brasileira dos tempos de araras, papagaios e claro, futebol.
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Hoje, ao cruzar uma rua, vi um cão velho com seu dono. Me lembrei imediatamente do livro Escrita INKZ, do soiólogo português Boaventura de Sousa Santos. Para entender a analogia, só lendo esse livro que salva a poesia contemporânea das chatices estilísticas e dos duplos twist carpados sem propósito do gênero lírico.
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Dúvida da semana: celular convencional ou smartphone?
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Em breve estarei de volta. Não vou calçar um Rider 43, vou trabalhar... Ainda bem que existem bons trabalhos!
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quinta-feira, 12 de março de 2009

COMPARTILHANDO




Pensamentos do meu amigo Kjá, mochileiro que viaja nas possibilidades.
Milhões de carimbos nesse passaporte.

Aproveito pra colar um desenho que fiz do nada.

"*google docs
pensamentos digitalizados.
soma, coletivo.
diminuição de egos
vazio."

terça-feira, 10 de março de 2009

ORIGINAL DENTRO DO ÓBVIO

Enxergar no tecido branco a melhor parte do verão, mesmo que de forma machista.
Pintar, via telas e pincéis, alguma coisa que confronte o século XXI.
Ouvir alguma coisa banal que toque fundo.
Conquistar a liberdade, mesmo que imerso num mundo cheio de cadeados enferrujados.
Fumar o mesmo cigarro pela milésima vez.
Amar, consecutivamente, sabendo que se trata de um sentimento registrado no DNA.
Filmar diálogos, beijos, porradas e assassinatos.
Correr em volta da praça.
Comer asas de frango com pimenta (Texas style), sabendo que os orgânicos compõem dietas mais saudáveis.
Sorrir pro espelho.
Matar baratas sem dó. Amanhã outras aparecerão.
Buscar sentidos, independente da filosofia.
Rezar para alguém, e não para uma doutrina.
Usar roupas simples, fugindo do simplório.
Estudar para esquecer.
Viajar para conhecer.
Ler para passar o tempo de forma agradável.
Imaginar.
Comer, ir ao banheiro, tomar banho.
Usar um perfume bom, e caçar o cheiro retorcendo a cabeça.
Se apaixonar.
Saber o significado da palavra perecível.
Combater certos significados.
Sonhar. Resumir. Escrever. Dormir.

A CHUVA, A MORTE E UMA RODOVIÁRIA

A chuva sobe de cabeça pra baixo.
Molha a nuvem antes do chão. Existe.
Hora sim, hora não.
A morte é uma grande sacanagem.
É como se você estivesse numa festa e, de repente, a bebida acaba.
Depois do fim das bebidas, você se consola conversando com alguns amigos.
De repente alguém te expulsa da festa.
A rodoviária tem vias.
Abacaxi.
Coxinha de frango suspeita.
Limão e pimenta.
Sentidos.
Sinais.
Palavras de amor.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

TRAMA NO O´SOBRADO

Segue abaixo um registro da TRAMA URBANA que o Fuso Coletivo realizou - em parceria com o Fabio Birita- na casa da Lapa.

Mais informações no blog do FUSO: http://www.fusocoletivo.tk
Fuso Coletivo (Luciano Cian + Artur Kjá)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

SOBRADO



No próximo sábado estarei com uma intervenção no Sobrado - Lapa.

Eu + Kjá (Fuso Coletivo) - com mais uma participação especial do Birita - vamos subverter um dos muros do casarão da Lapa.
Abaixo o flyer na íntegra. Apareçam!

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O pessoal d'O SOBRADO começa 2009 com a corda toda. Em clima de aquecimento para o carnaval, dez marcas vão se reunir no dia 7 de fevereiro, das 10h às 22h na rua Riachuelo 101.
Preços especiais + chorinho + churrasquinho + som nas pick-ups
A moda vai ficar por conta de: Balaco, Balaio, Diversa, Hefestos, Joana Contino, Orange, Pontos por Virgínia Moraes, Teresa & Paula Lino, Urbanóide e Zellig. A comidinha que será servida também tem marca: Fazendo Doce.

Para completar, nada melhor do que música. Nesta edição, o show ficará a cargo do grupo Vivalabuta – com um repertório que mistura choro e samba. Nos toca-discos, a presença ilustre do DJ Preto Serra (Blax).

Intervenção de arte - Fuso Coletivo (Luciano Cian + Kjá) + Fabio Birita.

Até lá!
O SOBRADO

NEO PASTILHAS

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

2009



No dia 27 de novembro de 1985, quando o cometa Halley cruzou o céu timidamente, após grande expectativa – falava-se que o cometa seria visto com o tamanho de 20 luas cheias - eu tinha exatos 12 anos de idade. Me lembro que a exatidão dos anos fizeram com que todos viajassem para o ano 2000. Projetávamos a idade para o novo século. No meu caso, o número era 26, já que sou de julho. Pensei o que poderia mudar. Como estaria. Certezas de um futuro incerto.

Hoje, véspera de 2009 – um número nunca antes pensado e projetado por aquela mente quase infantil – abro o jornal e vejo que pouca coisa mudou de verdade. Além das rugas e do fôlego escasso, a mesma exatidão matemática que rege o calendário cristão nos faz andar em círculos miúdos. Onde estão as naves? Cadê a mochila voadora que nos levaria de lá pra cá em segundos, a máquina de teletransporte, as moradias inteligentes, os robôs submissos, a paz pós-guerra fria?

Ainda somos infantis, depositamos no tempo nossas próprias angústias, buscamos na matemática simples o resultado de uma vida que se apresenta muito mais complexa com o passar dos anos. Números sobrepostos. Datas regidas pela mesma lua que, anos atrás, foi usada como escala para uma luz que cruzaria o céu.

Somos românticos. O tempo, piada.

Felicidades em 2009!

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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

NEO METRÔ

DOMINGO SEM PARQUE



Meia-noite. Azia em pleno vapor queimando as paredes do estômago. Lembranças das caipirinhas com cerveja quente das horas anteriores. Não estava fervendo, mas não dava pra chamar de gelada aquela Antarctica resfriada. Coisas da cultura brasileira, do sol que banha a linha do Equador, mesmo quando estamos mais pro sul do continente periférico. Computador desligado, listas e mais listas de afazeres perecíveis… Todos em estado de putrefação. O sono, a espinha que urge revelando a idade dos ossos, a preguiça e a falta de opções razoáveis na televisão sepultam a noite. Paro e penso: onde estão os movimentos? Cadê o papo-furado que não naufraga nunca? O que é ficção e o que é realidade após as 24 horas de um domingo quente, mesmo sem sol.

A procura da adrenalina de meia-idade, vago pelas folhas em branco, por mais uma loira frígida, por programas sobre o dragão de Komodo. Sintomas de um carimbo em relevo, 3D de tão forte, pulsante: bem-vindo a mais um dia matemático. Um dia que cumpre bem sua função no calendário, que justifica astrólogos e numerólogos, que reiventa zoológicos, cinemas (não filmes), teatros (não importa o espetáculo), pizzas! Não existe clichê maior que esse, meter o pau no domingão! Mas não fujo da regra, apesar das tentativas de subverter a ordem dos planetas.

Mais jovem, negava domingos e segundas. Melhorei?

Vida longa aos dragões.

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

TRAMA URBANA

O FUSO COLETIVO, coletivo de arte formado por mim + Kjá + convidados, deu início a mais uma ação. Depois do Prêmio Interferências Urbanas 2008, vamos ligar os pontos. A proposta, com o título de Tramas Urbanas, é uma mistura de grafite, ícones e/ou signos, neocrocretivismo e o que vier à tona.

O convidado da primeira rodada foi o Fabio Birita.
O local: Centro do Rio, mais precisamente nas imediações da Cinelândia.

Confira mais no blog do FUSO COLETIVO: www.fusocoletivo.tk


segunda-feira, 24 de novembro de 2008

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

LANÇAMENTO ZUPI #11

A Zupi - Revista de Design - aterrisa novamente em solos cariocas: dia 12 de novembro, as 19h, Arteplex, Praia de Botafogo... Mais informações no e-flyer abaixo. Apareçam!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

MALABARES TV

MALABARES POR INTEIRO

Chegou ao fim a incursão do FUSO COLETIVO no mundo do circo. Do dia 24 de outubro ao dia 02 de novembro, nosso fiel malabarista - o ator Elvis Marlon - distribuiu R$ 1.000,00 na sinal da Rua 2 de Dezembro com a Rua do Catete, das 17h30 as 20h30. A performance MALABARES, uma das 10 vencedoras do Prêmio Interferências Urbanas 2008, surpreendeu não só os motoristas que receberam a estranha doação, como também a nós. Durante esses 10 dias de ação, vimos muitas reações diante o "pagamento" pelo erro. Nosso desastrado malabaristo vestiu o personagem e convenceu.

O FUSO COLETIVO é um grupo de 2 (eu + 'Kjá) que está aberto a novas idéias e participações.

O Prêmio Interferências Urbanas 2008 teve patrocínio da Oi e do Governo do Estado do Rio de Janeiro, apoio do IPHAN e do Oi Futuro e produção da Tisara.

Em breve, muito breve, estaremos de volta. Mais informações sobre essa ação e sobre o FUSO COLETIVO no blog: http://www.fusocoletivo.tk/


Confira abaixo algumas fotos da ação:


O ERRO...



A DESCULPA...



A TARDE, A NOITE...



QUASE ICÓGNITO...



DEPRIMIDO...



DE VOLTA AO TRABALHO...



ALIMENTANDO AS TEORIAS DE WARHOL.
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