quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

NATAL




Ele era baixo, gordinho e totalmente míope.
Ela era alta e elegantemente magra.
Ele, o baixo-gordo, perdia os cabelos em progressão geométrica.
Ela, a Sophia Loren tropicana, foi promovida gerente geral.
Ele devia na praça.
A praça parava para vê-la passar.
Gago e com problemas de coluna, ele usava Acnase.
Ela usava meia calça e salto alto.
Ele caiu na agiotagem. Vivia no vermelho.
Ela, de batom intenso, inspiraria Fellini, Tornatore, Scola.
Enquanto ele pega um trem pra Central, ela negocia a compra de um apartamento no Central Park.
Ele ouvia Calcinha Preta.
Ela, de calcinha preta, ouvia jazz.
Ele fumava Derby.
Ela parou de fumar - para desespero de Fellini.
Ele jogava na Sena.
Ela, a beira do Sena, tomava champanhe.
Bêbado de Sidra, o Natal dele se fez repleto.
Mais uma "flute" pra ela, gentilhomme.
Tim tim.

Não, eles não se conhecem.
Uma pena...

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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

ADAMASTOR



Seu nome parecia ter saído de um comercial. Mais precisamente de um comercial de seguros. Afinal, quem se chama Adamastor? Mas esse não era seu único desgosto. Meu amigo nasceu numa terra isolada, numa cidade vazia, num estado... Digamos, pífio. Adamastor era de Esperantina, no Piauí... O nome da cidade, passível de um trocadilho otimista, não foi suficiente para Adamastor se livrar das agruras que lamentava entre goles e palitadas.

Verdade seja dita, nasceu no cu do mundo. Mas, desde que inventaram a roda, isso não é desculpa pra nada. Sabendo disso, logo que se emancipou, tratou de juntar os trapos e desceu o mapa. Foi para São Paulo. Adamastor era mais velho que eu. Hoje teria uns 46 anos. Mas os quatro anos que nos separavam nunca foram problema para dividirmos a mesma mesa, as mesmas histórias e, como não poderia faltar, alguns desgostos.

Sou carioca. Adamastor veio pro Rio após dois anos amargos na capital paulista. Sem dinheiro e sem trabalho, veio tentar a vida no balneário carioca. Aqui, ao menos, nos divertíamos com poucos trocados.

Nessas conversas, regadas a conhaque barato, aprendi muitas coisas com o velho amigo. E claro, ouvi muitas baboseiras desconexas. Certa vez, ele me disse que odiava homens de pochete, mas que, ao mesmo tempo, sentia remorso por isso. Me confessou que passava as madrugadas andando pelo casa com o aparelho celular preso no elástico da cueca. De uma certa forma, ele sabia que estava usando uma espécie de pochete particular, invisível a rua, mas igualmente - ou pior'mente' - devastadora.

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Logo que chegou ao Rio se enturmou com uma galera metida a artista. E, entre performances com homens e mulheres nus e poesia concretas, desenvolveu esse sentido estético metido a besta. Daí a implicância com as pochetes. Entre uma exposição e outra, Adamastor cursou jornalismo. Outro erro, talvez. Estava fadado as profissões nada práticas, que não dão grana. Porra Adamastor!

Meu diploma de engenharia civil não permitia alertá-lo. Para ele, eu era mais um cidadão comum. Coisa que Adamastor queria fugir... Pavor por ter nascido em Esperantina, Piauí. Certa vez, insisti no assunto. Disse a ele que tudo isso era bobagem, que mais valia um prato na mesa, amigos, saúde, família. Perdi meu tempo. Adamastor queria deixar sua marca no mundo, fazer diferença. Queria se livrar de um carma que ele mesmo havia inventado.

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Há poucos meses Adamastor me ligou triste, desolado. Marcamos um papo no bar de costume. Antes do primeiro gole Adamastor sentenciou: "internet de cú é rola!" Ri... Fazer o que? Adamastor estava irritado com as novas mídias sociais, estava puto com o que chamava de "falta de respeito online". Não conseguia entender porque as pessoas não respondiam seus e-mails, mesmo que eles não estivessem perguntando nada. Concordo em termos, mas não pra ficar puto. Como disse ao amigo, acho que faz parte de um processo de desapego, de materialização das relações, de independência. Sei lá, foda-se! Na mesma noite, Adamastor deletou tudo. Virou um recluso online.

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Fui a quase todas exposições de Adamastor. Confesso que não entedia porra nenhuma da sua obra. Mas não ligava. Até porque sempre duvidei que alguém entendesse alguma coisa. Não somente da obra de Adamastor, mas de qualquer obra de qualquer artista contemporâneo. Sempre tive a impressão que os malucos despejam sua loucura em universos muito particulares. Mundos com linguagens e códigos próprios. Por isso nunca desdenhei seu trabalho, simplesmente olhava, balançava a cabeça e ia embora. Como ele nunca me perguntou nada sobre arte, ou sobre a sua arte propriamente dita, me sentia confortável em prestigiá-lo.

Mas, pra mim, foi essa arte que fez Adamastor sumir.
Desde que ele começou a levar a sério esse mundinho torto, que sua implicância com o passado passou a ser um problema. Antes ele lamentava, se dizia vítima da geografia, do DNA, da economia. Tá certo, a vida até poderia ter sido mais fácil pra ele se o pai tivesse alguma posse, algum nome importante, se fosse artista de novela. Mas entre nós, isso só acontece com meia dúzia. Quanta bobagem dizia - e pensava - Adamastor.

Certa vez, num bar, Adamastor disparou:
- "É foda morar no Rio. Já tô a tanto tempo aqui que perdi meus mitos. Você assiste um filme nacional, fica vidrado na atriz... Repara nos detalhes da fotografia, no mistérios das curvas, na boca inchada pelo batom vermelho. Uma puta fantasia, cheia de sensualidade que cai por terra quando, na mesma semana que você assistiu a porra do filme, dá de cara com a infeliz tomando todas na mesa ao lado, sem charme, sem aquela luz indireta. Que mito segura a realidade?"

Dessa vez concordei, mas não dei muita trela. Pra mim, pouco importa se a gostosa ao lado é musa, foi musa, faz ou fez um filme de merda. O que realmente importa é chegar em casa e dar de cara com a Carlota, minha esposa há 16 anos. Mas vai falar isso pro Adamastor...

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O tempo passou, seu interesse pela arte contemporânea aumentou. Adamastor ficou chato, só sabia falar dessas porras. E quanto mais ele se embrenhava nessa selva, maiores as doses ficavam. Faz sentido um cara como ele se sentir mal diante a vida. Nessa altura do campeonato eu concordava com suas empáfias existenciais. Cá entre nós, o sujeito passa o tempo todo pensando em formas, em maneiras de dizer alguma coisa óbvia de uma forma diferente e quando resolve a questão, se depara com um monte de coisas desconexas, sem sentido. É claro que, na sua intimidade intelectual, ele sabe que não faz nada útil, que não aproveita seu tempo para algo realmente construtivo, palpável. Essas ideias jogadas escorrem pela sarjeta com a chuva, voam com o vento, são descartáveis. Daí, entendi Adamastor. Esperantina era seu menor problema. E logo quando ele percebeu que eu havia matado a charada, sumiu. Semanas depois, eu liguei. Secretária eletrônica. Mandei dois ou três e-mails e nada. Insisti mais uns dias e parei. Se ele não quer mais falar comigo, foda-se ele.

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Semana passada passei na frente do prédio do Adamastor e resolvi chamá-lo. Para minha surpresa, o porteiro disse que ele havia se mudado há algum tempo, e que não sabia para onde tinha ido.

Prefiro imaginar que Adamastor acordou de ressaca, parou e pensou na vida. Na sua própria vida. E isso fez com que ele abandonasse tudo por aqui. Adamastor fez as malas, seguiu para a rodoviária e comprou uma passagem para Salvador. De lá, foi pra Teresina para finalmente, chegar em Esperantina.

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Tomara que o velho amigo tenha encontrado um novo caminho. Mesmo que esse caminho seja o de volta.
As vezes, é melhor não sair do lugar.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA



Enquanto uma velha senhora chupa pães de queijo sentada à calçada - preservando o terceiro molar que ainda resta - uma figura gordinha passa exibindo banhas que escapam de uma blusa de lycra com estampas florais. Logo atrás um homem se aproxima da cena a passos largos. Na cintura exibe um aparelho celular devidamente protegido por uma capa de couro falso. Giro no eixo e, do outro lado da rua, uma jovem mulher arruma os cabelos. Lisos e pintados de loiro. Extremamente lisos. Tão lisos que seu nariz de batata entrega a alquimia.

No fone de ouvido alguém sussurra sobre clichês do fim do mundo. Coincidências à parte, confesso que essas experiências se sobrepõem, criam uma espécie de trailer cinematográfico dentro da minha mente. Uma edição frenética comum aos filmes de ação, uma montagem de tirar o fôlego.

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quinta-feira, 25 de março de 2010

PROCRAS...

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...........TINAÇÃO

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LOUÇAS DE PLÁSTICO

Lavei meia dúzia de louças de plástico
me molhei da cabeça aos pés.
Sou extremamente hábil
nas inabilidades.

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

FORA DE CASA NA CAPADÓCIA, TURQUIA

FORA DE CASA EM MONTREAL, CANADÁ

FORA DE CASA EM NAIRÓBI, QUÊNIA

FORA DE CASA EM PARIS, FRANÇA

FORA DE CASA EM NOVA YORK, EUA

FORA DE CASA EM JOHANESBURGO, ÁFRICA DO SUL

FORA DE CASA NA CIDADE DO MÉXICO, MÉXICO

FORA DE CASA EM VALE NEVADO, CHILE

FORA DE CASA EM WINDHOEK, NAMÍBIA

FORA DE CASA EM GOTEMBURGO, SUÉCIA

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

FUSO NO MuBE




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Rhino customizado pelo Fuso Coletivo:

sábado, 2 de janeiro de 2010

MINI RETROSPECTIVA 2010

2009 foi o ano:
1) do desaparecimento do Belchior
2) da gripe suína
3) da proliferação do peixes nos aquários socias
4) do Twitter
5) das vossas excelências trocando farpas enquanto nadam na minha piscina
6) de ver como o tempo passa rápido
7) de conhecer parte do mundo
8) de sonhar
9) de buscar
10) de repetir
...