terça-feira, 12 de abril de 2011

Jazz

Ela veio por trás. Devagar.
De repente, me agarrou pela cintura.
Ficou na ponta dos pés e cochichou no meu ouvido:
- "É hoje..."
Sem que eu pudesse me virar para enxergar seu rosto, ela esfregou e amassou seus peitos contra as minhas costas enquanto, lentamente, baixou a sola dos pés, tocando o chão e a minha espinha por inteiro. Suas mãos continuavam na minha cintura.
Tentei me virar lentamente...
- "Não olha!... Não te dei esse tipo de permissão."
Entendi. Baixei a guarda e suspirei. Ela, apesar da baixa estatura e do corpo pequeno, se fez de fôrma. Eu, recheio, ia me encaixando nas paredes.
Poucos instantes depois eu estava lá dentro.
Tudo escuro.
Só ouvi os pulsos dessincronizados. Um ritmo atípico, torto, meio jazz.
Quando submergi, estava cego.
Em compensação, meus outros sentidos estavam à flor da pele.
Tentei tocá-la para explorar meus novos poderes...
Era tarde, ela já havia sumido sem revelar sua identidade.
Com o passar do tempo meus sentidos enfraqueceram.
Só ficou a cegueira.
Pobre descompasso.

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